segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O direito ao voto e o dever de votar

Ontem foi dia de eleições legislativas cá no burgo, para a eleição do XIX Governo Constitucional português. E o que fizeram 43,07% dos eleitores? Abstiveram-se. Pois é, meus caros, quase metade dos cidadãos com idade para votar, não o fez.

Neste país à beira mar plantado, liberdade é coisa que só existe desde 25 de abril de 1974, ou seja, nem meio século passou desde que por aqui reinava uma ditadura. Por isso, é incrível como a memória deste povo é tão escassa, que tudo o que aconteceu para que hoje em dia pudéssemos viver numa democracia, sermos cidadãos livres e de plenos direitos, foi facilmente esquecido e o direito ao voto é tão desvalorizado. Muita gente foi presa, torturada, exilada, houve mortes, para que saíssemos das garras de um ditador e saboreássemos o gosto da liberdade. Mas isso já foi há muito tempo, não é? Quem viveu esses tempos já os esqueceu e quem nasceu na liberdade não quer saber disso para nada. Triste povo que não aprende nunca!

Para além da abstenção em si me incomodar muito, ainda me incomoda mais que as mulheres não votem, não valorizem esse direito. Será que ninguém se lembra que, neste país, o voto só passou a ser um direito universal depois da Revolução? Que antes disso as mulheres não tinham voz, não podiam trabalhar sem autorização do marido, que este tinha o direito de abrir a correspondência da esposa, que até 1969 as mulheres precisavam da autorização do pai ou do marido para se ausentarem do país, entre tantas outras coisas? Como é possível que numa sociedade machista, em que os direitos das mulheres ainda diferem dos dos homens, em que mulheres morrem às mãos dos homens que as vêem como propriedade, em que as mulheres mesmo tendo mais qualificações recebem até menos 30% que eles, essas mesmas mulheres se abstenham de exercer um direito, se abstenham de fazer ouvir a sua voz?

E por tudo isto hoje, Dia da Implantação da Républica, foi um dia triste, porque há cidadãos que não se interessam pelos destinos do seu país, que deixam nas mãos dos outros o seu futuro, que não aprendem com o passado para criar um futuro melhor.

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